Levantamento do GLOBO feito com base nas pesquisas Quaest aponta que indicados pelos chefes estaduais lideram apenas cinco eleições
O governador de Minas Gerais ao lado de seu candidato Mauro Tramonte; o prefeito Ricardo Nunes tem o apoio de Tarcísio de Freitas — Foto: Divulgação
Porto Velho, Rondônia - A última rodada de pesquisas Quaest mostra que candidatos a prefeito apoiados por governadores dos seus estados têm dificuldade na maioria das capitais. Um levantamento do GLOBO, com base em sondagens feitas em 23 cidades e divulgadas na semana passada, aponta que o nome atrelado ao chefe do Executivo estadual aparece à frente dos rivais em apenas cinco disputas.
Em Belo Horizonte, Mauro Tramonte (Republicanos) liderava a corrida antes do apoio do governador de Minas Gerais. Romeu Zema (Novo) mudou de estratégia no mês passado, ao abdicar da candidatura da ex-secretária Luísa Barreto, agora vice na chapa do apresentador de TV licenciado. No levantamento mais recente, Tramonte, que também tem o apoio do ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), aparece isolado na primeira posição, com 30% das intenções de voto.
Zema evita participar ativamente da campanha de Tramonte. Seu governo é avaliado positivamente por 34% da população da capital, índice próximo ao de Bolsonaro (36%) e superior ao de Lula (26%) e ao do atual prefeito e candidato a reeleição, Fuad Noman (PSD), que tem 27%.
Nas demais cidades em que o aliado do governador lidera, os candidatos são atuais prefeitos ou nomes da situação. São os casos de Topázio Neto (PSD), em Florianópolis, Cícero Lucena, em João Pessoa, e Tião Bocalom (PL), em Rio Branco. A deputada federal Mariana Carvalho (União), candidata do governador de Rondônia, Marcos Rocha (União), é correligionária do prefeito Hildon Chaves (União).
Para o cientista político Josué Medeiros, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os dados mostram que nesta eleição o governador não é o principal elemento para a escolha do voto nas capitais, cenário que permite ao chefe do Executivo estadual investir na conquista de outras prefeituras.
— Em casos como São Paulo, Salvador e Porto Alegre, a corrida está muito disputada, o que favorece que o governador trabalhe para eleger aliados no interior . A capital perde centralidade, e ele passa a buscar combustível para 2026 em outras regiões — aponta.
Tarcísio intervém em SP
Na capital paulista, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem avaliação positiva de 40% do eleitorado, índice superior aos das gestões de Lula e Bolsonaro, padrinhos que têm sido levados para a disputa municipal. Tarcísio estreou na campanha de Ricardo Nunes (MDB) na semana passada com a missão de reduzir a resistência do eleitor bolsonarista ao emedebista. A nova Quaest confirmou a ascensão de Pablo Marçal (PRTB), que aparece com os mesmos 19% do atual prefeito, em um empate técnico triplo na liderança: os nomes da direita estão numericamente pouco atrás de Guilherme Boulos (PSOL), que tem 22%. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Em Porto Alegre, a candidata do governador Eduardo Leite (PSDB) aparece distante dos dois primeiros colocados, que dividem a liderança em um empate técnico. Juliana Brizola (PDT) tem 11% das intenções de voto, bem atrás do atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), com 36%, e de Maria do Rosário (PT), com 31%.
Um caso emblemático de dificuldade de migração de votos ocorre em Fortaleza, onde o aliado do governador Elmano Freitas (PT) aparece na terceira posição mesmo com o empenho do chefe do Executivo estadual em agendas de campanha. Com 14% das intenções de voto, o deputado estadual Evandro Leitão (PT) é superado por Capitão Wagner (União), que lidera com 31%, e pelo atual prefeito, José Sarto (PDT), que soma 22%. A cidade é uma das principais apostas do PT para emplacar o comando de uma capital em 2024. Em Fortaleza, 36% dos eleitores avaliam a gestão de Elmano como positiva, índice semelhante ao do presidente Lula (40%), e 27% veem seu trabalho como negativo.
Em Salvador, também reduto petista, Geraldo Júnior (MDB), aliado do governador Jerônimo Rodrigues (PT), tem desafio semelhante. Enfrenta o favoritismo de Bruno Reis (União), aliado de ACM Neto, que soma 66% das intenções de voto. O emedebista reúne apenas 9% das preferências a quase um mês do pleito.
No Nordeste, outro candidato apoiado pela gestão estadual com dificuldade é o ex-secretário de Turismo de Pernambuco, Daniel Coelho, que tem 5% das intenções de voto no Recife. Aliado da governadora Raquel Lyra (PSDB), ele aparece muito atrás do prefeito João Campos (PSB), que lidera com 80%. Na capital, a gestão de Raquel Lyra é mal avaliada por 48% e bem avaliada por apenas 15%.
No Rio, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), com apenas 9% das intenções de voto, também luta para decolar. O aliado do governador Cláudio Castro (PL) está atrás do atual prefeito Eduardo Paes (PSD), que tem ampla vantagem e aparece com 60% das intenções de voto, quase o triplo da soma dos adversários. Na cidade, Castro enfrenta alta rejeição: 42% consideram seu governo negativo, contra 14% de avaliação positiva.
Disputa dura no paraná
Em Curitiba, o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), que tem o governador Ratinho Júnior (PSD) no palanque, aparece numericamente à frente em uma corrida apertada, na qual empata na margem de erro com outros três candidatos. Apoiado também pelo prefeito Rafael Greca (PSD), ele é seguido por Roberto Requião (Mobiliza) e Luciano Ducci (PSB), ambos com 18%, e Ney Leprevost (União), com 14%. Na capital, a gestão de Ratinho Júnior é bem avaliada por 64% dos eleitores e mal avaliada por 11%.
Em Maceió, Rafael Brito (MDB), candidato do governador Paulo Dantas (MDB) e do senador Renan Calheiros (MDB), tem apenas 4% das intenções de voto, mesmo contando também com o apoio de Lula. Com ampla vantagem aparece o atual prefeito, João Henrique Caldas (PL), aliado de primeira hora do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), com 74%.
Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio), Luciana Veiga aponta que prefeitos bem avaliados prescindem do apoio do governador:
— O eleitor não prioriza alinhamento o ao governador. Entre outros motivos, pela expectativa de maior expressão ideológica no pleito.
Fonte: O GLOBO
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