Sudeste registra desempenho decepcionante em testes do Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb)
Alunos voltam à escola estadual em São Paulo após pior fase da pandemia: programas de recomposição de aprendizagem afetada pelo lockdown foram insuficientes — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Porto Velho, Rondônia - A performance ruim do Sudeste — especialmente de São Paulo, Rio e Minas Gerais — nos testes de aprendizados realizados pelo Sistema de Avaliação de Educação Básica (Saeb) em 2023 foi preponderante para um desempenho nacional desapontador. A conclusão é de uma análise do instituto Todos Pela Educação.
O Saeb avalia a aprendizagem em Português e Matemática de alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental, além do 3º ano do médio. A nota padronizada (uma média das duas disciplinas que vai de 0 a 10) foi de 6,02, em 2019, para 5,91, em 2023, no 5º ano. Além disso, passou de 5,21 para 5,1, no 9º do fundamental, e de 4,54 para 4,45 no ensino médio. No Sudeste a queda foi maior (veja tabela abaixo). Os resultados foram divulgados no dia 14 pelo Inep, autarquia do Ministério da Educação responsável pelo teste.
— Essa estagnação das notas não foi homogênea. Alguns lugares foram bem melhores do que outros depois da pandemia. São Paulo, Rio e Minas foram ficando para trás em termos de política educacional de 2019 a 2023. Não é só culpa da atual gestão, mas as políticas nesses estados, que são muito populosos e por isso afetam mais a nota do país, não acompanharam o ritmo do resto do país para nenhuma das etapas avaliadas — afirmou Gabriel Corrêa, diretor de políticas públicas do Todos Pela Educação.
Expectativa frustrada
A expectativa de especialistas era de que as redes tivessem conseguido, pelo menos, recuperar as perdas de aprendizado na pandemia, em 2020. Isso aconteceu no Nordeste, onde a variação das notas em duas das três etapas entre 2019 e 2023 foi de 0,01 pontos para baixo. O Sudeste teve a pior queda nas três avaliações. O destaque foi para o ensino médio na região Norte. Os bons desempenhos de Pará e Amapá fizeram com que a nota padronizada subisse 0,2 décimos. Esses índices consideram apenas as redes públicas, compostas pelas escolas estaduais e municipais.
— Muitas secretarias de educação, inclusive de São Paulo e do Rio, criaram programas insuficientes de recomposição de aprendizagem. Acharam que bastava apenas passar uma borracha no que aconteceu na pandemia e implementar novas políticas, sem levar em conta que os estudantes estavam em grande defasagens — analisa Corrêa. — Com isso, esses governos estaduais falharam, ao contrário do que acontece com êxito em outros lugares de destaque ao longo dos anos, como o Ceará.
Levantamento do GLOBO nos dados do Inep mostra que a maior parte dos alunos das redes públicas estuda em cidades que tiveram alguma queda de aprendizagem em duas das três etapas avaliadas. Nos anos iniciais, metade dos alunos são de municípios que tiveram queda entre 0,1 e 0,5 ponto, resultado considerado insatisfatório por pesquisadores. Outros 10% são de municípios em que o desempenho caiu mais do que 0,5, o que é visto como muito ruim.
No Sudeste, esses índices são de 63% e 12%, respectivamente. No Nordeste, os patamares são de 35% e 9%. Além disso, o Nordeste teve 12% dos seus estudantes em redes que melhoraram mais do que 0,5 pontos. Apenas 1% dos estudantes do Sudeste estão em cidades nesse estágio.
A situação é similar no ensino médio. Enquanto 62% dos alunos do Sudeste estão em redes com queda da nota entre 0,1 e 0,5 ponto, 56% dos nortistas conseguiram crescer nesse mesmo patamar. No Pará, não houve nenhuma cidade com queda do Ideb acima de 0,5 pontos.
— O Pará teve muito sucesso. Partiu de uma priorização curricular, estabeleceu um foco muito grande com avaliações e fez intervenções pedagógicas muito fortes para estudantes que ao longo do ano iam sendo detectados com problemas de aprendizagens — afirmou o especialista do Todos Pela Educação.
Em nota, SP informou que esses resultados “reforçam o diagnóstico” feito no início da gestão e que a recuperação começou a partir do 2º semestre de 2023. O RJ alegou que série de medidas já implementadas irá refletir em melhores resultados no futuro. Já MG afirmou que a “recuperação do processo de ensino-aprendizagem é uma tarefa contínua” e que tem sido feito por projetos estratégicos.
Fonte: O GLOBO
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